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As professoras que por mim ficaram (2 de 3)

Atualizado: 30 de out. de 2019

As lembranças que venho aqui retratar das professoras que marcaram minha vida, são marcas de admiração, encorajamento, aprendizado e, algumas vezes, medo.


Funcionava assim: Era quinta-feira de manhã. O sinal tocava avisando que era hora de todos se encaminharem para suas salas. Por ser a primeira aula de quinta-feira, todos se entreolhavam torcendo coletivamente para que a luz da escola acabasse e as aulas fossem suspensas.


Nesse dia, a enfermaria fazia fila com casos inexplicáveis de dor de barriga, contusão na perna, diarreia e unhas encravadas.


Ao entrar na sala, diferente dos outros dias da semana, todos rapidamente se posicionavam em suas carteiras, garantiam que o lápis estava apontado, o caderno aberto na lição de casa feita e o cabelo penteado. Darcy, que estava do lado de fora fumando o último cigarro, entrava na sala.


Eu devia estar na terceira série e não consigo me lembrar exatamente como era o rosto de Darcy. Mas minha memória diz que ela era grande, na verdade enorme. Tinha os cabelos mal lavados e os dentes escuros por conta do cigarro de tantos anos. Nos corredores da escola corria a lenda de que ela tinha mais de 100 anos. Inclusive, diziam que em uma das cabines no banheiro dos meninos havia uma declaração de amor feita a ela quando ela era ainda uma estudante da mesma escola em 1935. Amor esse, que ela nunca correspondeu.


Era dia de chamada oral. Nesse dia, os anjos que passavam por ali a trabalho, ficavam malucos com tantos pedidos simultâneos de “por favor, não me escolha hoje”! Mas era inevitável, um dia chegaria a sua vez.


- 8x7?

(Enquanto os números se embaralhavam em pensamentos, a régua estava suspensa pelas mãos da professora na altura dos olhos e desciam lentamente até o nível da mesa)

- Ponto negativo

O tempo em que a régua descia era o tempo que tínhamos para encontrar o resultado da tabuada.


Certamente, uma postura como a dela não seria aceitável hoje em uma sala de aula, mas estamos falando dos anos 90 e quantas coisas mudaram na educação de lá pra cá, não é mesmo? E que bom.


Eis que fiquei aqui pensando sobre o que Darcy poderia ter agregado em mim positivamente? Hum...Não decorei a tabuada até hoje.



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