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As professoras que por mim ficaram (1 de 3)

Atualizado: 30 de out. de 2019


Estou iniciando aqui uma narrativa: 3 professoras que marcaram a minha vida de alguma maneira. E sobre como elas passaram (e ficaram) por mim.


Bem, mas isso não se deu assim, de repente. O gatilho que me fez perceber o quanto algumas professoras marcaram a minha vida de fato, aconteceu ontem quando encontrei uma caixa de recordações da minha infância. Na verdade, não uma caixa, mas sim uma lata de panetone (daquelas que minha mãe adorava guardar lá nos anos 90, porque tinha pena de jogar no lixo – aposto que você ainda tem uma dessas aí também). E a lata estava recheada e cartinhas, bilhetes e cartões-postais (lembra disso?).


Foram minutos deliciosos de leitura e recordações. Em meio a tantas coisas fofas, emocionadas e tantas outras baboseiras de adolescente, achei o bilhete da J.


A J foi minha professora de literatura.


45 minutos era o tempo de cada aula dela. E como passava rápido. Em meio ao sono, que sempre me acompanhava nos tempos de escola, havia a aula da J. Lá, eu me sentia perto e ao mesmo tempo longe. Perto do sono, da carteira nada ergonômica, do cheiro da escola. E ao mesmo tempo lá longe: dentro da casa da Capitu, no cortiço São Romão, nas terras de São Bernardo e nos braços de Diadorim.


Depois disso, era o sinal, as rampas para o recreio, a fila da cantina, a coxinha gordurenta, as intermináveis risadas, a tabela periódica.


J só voltaria na próxima terça.


Essa carta foi escrita por ela no ano em que ela decidiu se aposentar. Era 1997. Eu com 17 anos e J com 35 anos de carreira. Ela escolheu a minha turma pra se despedir da sala de aula, enquanto fazíamos a última prova do ano.

Lembro perfeitamente do dia em que junto com a prova, ela entregou a cada aluno esse bilhete. Impresso e com sua assinatura de próprio punho.


Quanto amor essas palavras carregam! Certamente, junto delas muitos problemas, desilusões, cansaço e dificuldades. Mas, acima de tudo, amor pela profissão.


Foi com ela que descobri que eu deveria seguir a área de “humanas”, como se costumava dizer naquele tempo, separando os alunos em caixas devidamente nomeados durante o colegial. Foi com ela que as manhãs das terças-feiras se tornaram mais interessantes do que as segundas ou quartas-feiras. Foi com ela que me emocionei ontem, ao achar essa carta e perceber o quanto os professores ficam pra sempre junto conosco.


Muito obrigada, Jussemy.


Transcrevo aqui seu bilhete, professora. Tenho certeza, que você vai perdoar minha ousadia. Afinal, muito dela se deve a você


“ALUNOS MEUS

Isto mesmo, MEUS!!

Usarei a prova para me despedir de vocês. Meu nome é Jussemy. Professora de Literatura, por 35 anos. Não está sendo fácil dizer adeus. Acredito que muito da minha sisudez deste semestre deveu-se ao fato de quando se passou uma existência fazendo alguma coisa que se gosta muito é complicado deixar de fazer.

Na verdade este bilhete é uma explicação. Como é que a coragem de xingá-los de Peter`s e Cindy`s? Bem, é que não estava xingando. Era um elogio. Peter e Cinderela são heróis de narrativas. E, como vocês dizem, histórias “são a minha praia”. E heróis tem altas qualidades: são jovens, belos, esperançosos e confiantes. Têm a vida pela frente. E coragem para enfrenta-la. E com isto dão o exemplo de que a vida vale a pena. E que não há necessidade de ser tão séria. Pois bem. Estes, com certeza são, em maior ou menor intensidade, vocês. Assim sendo, obrigada. Espero que a vida seja pra vocês, como foi pra mim. Encontrando pelo caminho um monte de príncipes e princesas que tornaram a minha vida de professora uma existência feliz! Obrigada. Meu nome é Jussemy. Muito prazer mesmo!! Novembro/97”



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